sexta-feira, 22 de julho de 2016

Radiohead sendo mais contemplativo do que nunca

Reprodução / Internet


Adiei ao máximo escrever sobre A Moon Shaped Pool, novo álbum do Radiohead. Demorei, pois estava imerso no descobrimento de várias bandas latinas, que coincidiu com minha viagem para aquelas bandas. Em seguida, comecei a ouvir este álbum, mas o Radiohead não é um grupo que você escuta por três dias diretos, uma semana e já arrota uma palavra de efeito pra ficar marcada. Até porque é um trabalho em marcha lenta, que carecia também de uma demorada audição.

O grupo possui discos completamente distintos, mas que, na minha concepção, são interligados e sugerem que há um fluxo, mesmo que as coisas não necessariamente corram para o mesmo lado. Trocando em miúdos: o Radiohead sempre se constitui de várias facetas. Era uma no Pablo Honey (1993), The Bends (1995) e OK Computer (1997), outra em Kid A (2000), Amnesiac (2001) e Hail to the Thief (2003), outra em King of Limbs (2011)  e uma próxima a esta, de A Moon Shaped Pool (2016) que dá as mãos para o In Rainbows (2007).

A banda volta a soar como "banda", volta a ser mais orgânica, sem abrir mão de toda a sua (não) musicalidade que se aprofundou no pós-apocalipse de Kid A. Mais um trabalho que é indispensável o uso de fones, para (tentar) compreender as camadas sonoras que constituem cada música, que foi premeditada e concebida sem pressa, sem se esquecer de limpar as gavetas.

Decks Dark é incrível. Há um piano em frenesi, uma guitarra repetitiva. Um coral lindo, e uma outra guitarra sutil no refrão, que é absolutamente indispensável. Daydreaming representaria a saída da caverna do grupo, após os últimos anos, contrastando com o próprio videoclipe da canção, em que Yorke entra em uma caverna, mas a mensagem é que as portas se abrem. Balada que apresenta um certo charme, e também alguma claustrofobia que a difere de tantas outras da banda.

Burn the Witch tem belíssimo vídeo e mais méritos do que parece. Ouça separadamente os arranjos orquestrados, o baixo, os violinos. Construção complexa e resultado interessante. Glass Eye se destaca com os arranjos orquestrados que complementam a letra melancólica. Identikit também chama a atenção pelas vozes entrelaçadas, a guitarra ora simples (quando aí o baixo rouba a cena) e  também tomando à frente da canção, digna de um.. Solo de guitarra.

A mesma regra em The Numbers. Nada empolga, mas prende a atenção, pelas sutilezas e suas decorrentes construções. Uma percussão que quase lembra samba, violões que se entrelaçam e vozes de todos os lados pontuam a calma Present Tense.

Tinker Tailor Soldier Sailor Rich Man Poor Man Beggar Man Thief se salva com a orquestra, no fim. E True Love Waits, já é uma velha conhecida, que ganhou forma e corpo, para se revelar bela como sempre foi.

Não é, nem de longe, o melhor trabalho do grupo e definitivamente não é o pior. Mas fica cada vez mais difícil comparar tantos "Radioheads" durante essa trajetória de mais de 20 anos. O que podemos dizer é o que o grupo mais uma vez flerta em soar mais melódico, mais orgânico, mas sem ter a menor pressa. O importante é contemplar, sentar em uma poltrona, deitar na cama e escutá-lo, calmamente.

Imbuído deste espírito, A Moon Shaped Pool cresce. Recheado de detalhes, construções rítmicas, camadas sonoras, ele não encanta, mas convence.

Assista ao videoclipe de Daydreaming:





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