terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Estranhas direções do pop

Columbia Records / Divulgação

Cresci em uma geração na qual boybands eram sinônimo de música divertida (e nem sempre boa) e (quase sempre) descartável. Que após alguns anos ridicularizando, quando eles ficam mais velhos e barrigudos, aí nós temos coragem de admitir nossa "guilty pleasure" e acaba sendo cool.

Quando criança, acompanhei o finalzinho do New Kids in the Block. Anos depois, peguei a febre de Spice Girls e Bakstreet Boys (e suas variações, como N’Sync e Five), sempre com algum desdém. Músicas com refrões pegajosos mas que seguiam um padrão típico, quiçá preguiçoso, como que se as audiências não fossem rigorosas e aceitassem qualquer coisa. A imagem era bem vendida e os hormônios levavam para a idolatria, já bastava e funcionou muito bem. A bateria era eletrônica, os arranjos, pueris, não havia uma grande preocupação melódica, em tentar fazer algo interessante e mais hum, instigante.

Desde então, passo à margem dos grupos que surgiram posteriormente. Até a Ana Clara (do Rock’n’Beats) postar no Facebook um post de um gringo elogiando horrores o One Direction, mais um grupo de garotos com rostos bonitinhos e tal. Li dois parágrafos e não botei fé, pensei que fosse algum amigo deles, um "crítico amigo", como existem por aí. Mas baixei o álbum e deixei -o “na fila” para um dia ouvir e me arrepender de ter escutado.

Aí meu chapa Bruno Capelas (do Pergunte ao Pop), endossou a Ana Clara, postando o link pra uma música deles, a Little Black Dress, que segue aí abaixo. Sim, era boa. Com bateria, guitarra, pop até o caroço, mas não necessariamente adolescente. Aí tive que conferir Midnight Memories, terceiro álbum do grupo.


Na primeira audição, a pergunta: "o que está acontecendo"? Essa mudança já estava ocorrendo ou peguei o bonde andando?

 Best Song Ever é pop que não deve nada ao que o melhor do mainstream é feito por aí. Story of My Life é um folk. Sim, FOLK que qualquer banda “respeitada” ou “adulta” do rock faria. Já Diana poderia ser um b-side esquecido e renegado de Bruno Mars (e isso é um baita elogio).  Enquanto You & I derrapa nos clichês de uma balada para as AM’s, Don’t Forget Where You Belong, acerta em cheio. Better than Words, que encerra o trabalho, poderia ser do Lenny Kravitz, fácil, fácil.

A segunda metade do álbum piora e MUITO.  Sim, às vezes alguns trejeitos das boybands antigas aparece: a faixa-título, apesar das muitas guitarras, parece bastante com Five. Em Strong, falta força. Happily é um baita clichê de canções alegres para as meninas. Through the dark também não desce.

Não estará nas listas de melhores do ano, mas apresenta cinco ou seis músicas que realmente chamam a atenção, talvez para novos tempos do mercado que consome música pop. Se a digestão precisa ser rápida, ela pode ter mais requinte, mais zelo. Enfim, mais qualidade.

Se você gosta de música pop, abaixe a guarda, dispa-se de seus preconceitos e ouça. Agora, se prefere esperar eles envelhecerem ou o mais talentoso sair em carreira solo para enfim tecer elogios, a escolha é sua. Não chega a ser uma revolução, mas um inequívoco sintoma de uma mudança que pode vir por aí, se é que já não veio e este tiozão aqui, chegou atrasado e achou graça.