terça-feira, 26 de agosto de 2014

"Velocia" é irregular, mas aponta o melhor caminho para o Skank

Reprodução / skank.uol.com.br

Há pouco foi lançado Velocia, nono álbum de inéditas do Skank. O trabalho flerta um pouco mais com o reggae da fase noventista, mas ainda reflete uma banda indecisa, perdida e sem querer ousar tanto, que nos últimos dez anos lançou bons singles, porém álbuns bem irregulares. E Velocia não foge desta regra.

O trabalho apresenta algumas participações: Lia Paris, dispensável na chatíssima Aniversário; Nando Reis, parceiro de composições de longa data do grupo, que não compromete na faixa de abertura e na razoável Galápagos e B Negão, que deixa seu recado na bela Multidão.

No restante do trabalho, é uma montanha russa, como foram os anteriores Carrossel (2006) e Estandarte (2008), contrastes a cada faixa. Do Mesmo Jeito (parceria com Lucas Silveira, do Fresno) convence, empolga e tem cara de hit, já Rio Beautiful (com Emicida) é absolutamente descartável. Às vezes, as contradições estão dentro da mesma canção: Esquecimento começa linda, com bela letra e arranjos orquestrados e depois se perde. Já Alexia é sobre futebol e tem clara influência de Jorge Benjor, o que quer dizer: é a banda se sentindo em casa.

(Aliás, um parágrafo à parte: tenho uma birra pessoal sempre que algum artista tenta mesclar idiomas diferentes, me parece sempre uma vã tentativa de soar 'cool', quando na verdade revela em algumas vezes uma pobreza na construção da própria canção, em não conseguir encaixar alguma palavra na própria língua. Não sei quando esse trauma começou, acho que foi com os Tribalistas - aliás, quase todos os males da música brasileira eu faço referência a este nefasto projeto - , ou com a Marisa Monte - cantora que admiro e respeito (apesar d'os Tribalistas) - com aquela horrenda Amor I Love You. Então não me descem coisas como "Teu olhar é Rio Beautiful" ou mesmo "Manhã sem bonjour", admito que sou chato).

Périplo flerta com Supergrass e cai bem; A Noite faltam culhões, contundência, pra quem já compôs A Cerca e Rebelião, podia ter arriscado mais para sair do marasmo climático.

Quem diria, o disco é salvo pelo reggae: Tudo Isso (outra parceria com o rapper paulista), que encerra o trabalho, é deliciosa, simples e funcional. E Ela Me Deixou é a melhor, irresistível, mostrando que a verve jamaicana do grupo estava esquecida, mas permanece viva.

Fica o lamento de uma banda que possuía uma discografia irretocável até 2003, com os representativos e já clássicos Skank (1992), Calango (1994) e O Samba Poconé (1996), Siderado (1998), o corajoso e histórico Maquinarama (2000) e o maravilhoso Cosmotron (2003). Mas Velocia (2014) aponta para um resgate do que o grupo fez de melhor e este flerte se sobressai no trabalho. É a esperança de discos mais ensolarados daqui por diante. Vamos aguardar.

Videoclipe de Ela Me Deixou:


quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Linkin Park retorna com bem menos firulas

Rollingstone.com / Divulgação

Desnecessário teorizar o quanto o rock é/foi importante para a juventude. Quando eu era moleque, além dos clássicos, eu tive a sorte de ser guiado por bandas relevantes que surgiam e/ou estouravam na época: Green Day, Offspring, Blur, Oasis, Rage Against the Machine, Pearl Jam, Nirvana e por aí vai.
20 anos depois, o rock simplesmente definhou e essa molecada de 13, 14, 15 anos migrou para outros estilos musicais, relegando aos pais a árdua tarefa de levar o bastão do rock adiante (que expressão horrível, mas vocês entenderam).

Aí ouço o novo disco do Linkin Park e aplaudo por ser uma tentativa de tentar (re)conquistar os moleques. É indiscutível que a banda não é um RATM, um System of a Down, um Incubus, nem mesmo um Korn (que entrou em parafuso por anos e parece que há pouco se reencontrou), e muito abaixo de um Deftones (muito melhor e alternativo/confuso para essa geração). Seu novo trabalho The Hunting Party é repleto de guitarras, sem aquelas climas chatos dos álbuns anteriores. Mesmo com produção luxuosa, prima pela simplicidade.

E isso é o que dá pra fazer. Linkin Park é um dos ícones de um gênero desnutrido, no qual tentam se reinventar ou simplesmente soarem “honestos”, pois estão milionários e não precisam provar mais nada para ninguém. A banda buscou a receita básica do rock, obviamente usando seus próprios ingredientes. É um álbum com mais guitarras de toda a discografia (e nem é pela presença dos guitarristas do Helmet, System of a Down e Rage Against the Machine no trabalho).

Nunca curti Linkin Park, considerava uma banda pré-fabricada, sustentada por auto tunes e pouco criativa. Aí veio o Minutes to Midnight, de 2007. Ok, o mérito é mais do produtor Rick Rubin, que abriu a trincheira para a banda soar interessante, flertando com o pop e fazendo músicas pegajosas e sim, boas. Mas era uma banda bem diferente que se apresentava. Aí o grupo se intensificou nessas 'modernices' e se perdeu nos trabalhos posteriores, fez um show chato no festival SWU (2010) e agora parece que acordaram.

O trabalho é direto, possui bons refrões, todos os ingredientes para um público jovem e ávido, remetendo aos primeiros álbuns do grupo, com alguns flertes claros. O adolescente que adormece dentro de mim acordou um pouquinho, deu uma espreguiçada, abriu um breve sorriso e logo pegou no sono. Para os que mantém a juventude mais viva, vai cair bem. E no estágio que o rock “jovem” se apresenta por estes dias, não está nada mal.

Para quem um dia já disse que o Linkin Park era uma boyband, lembro que ultimamente até boybands estão lançando discos interessantes, como muitos reconheceram no (pasmem) One Direction. Então, nestes dias tão estranhos, o trabalho tem sim algum mérito.