terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Ao David

Créditos: nafuma.com.br / Reprodução

Demorei a escrever, esperei a ficha cair. Não cai. A morte do David, mesmo assimilada, ainda é de difícil aceitação. Sim, do David. Me senti como se tivesse perdido alguém da família, um amigo próximo.

Isso nunca me ocorreu. Nunca fui um fã apaixonado, apesar de sempre acompanhar sua carreira com atenção e gostar de muita coisa em sua discografia, principalmente a década de 70 e início de 80, que são absurdamente bons. Mas a morte dele bateu. Doeu. Dói.

Talvez por tudo o que ele representa não só na música, mas como artista. Da gama absurda de gente que ele influenciou, das mais variadas vertentes e raízes musicais. Das pessoas que percebi que estavam de fato sofrendo, chocadas, pois a arte que ele fez encurtava distâncias, driblava culturas e fazia significado para qualquer um de nós.

Da sua carreira em si, sempre surpreendente, sempre tentando algo novo e diferente, mesmo errando. Um incomodado, um desbravador, um monstro, que deixou canções e mais canções na história.

A sua despedida foi premeditada. Terminar um álbum com seis paradas cardíacas no período é um sintoma óbvio de que aquele era seu último tiro. Seu último suspiro. Felizmente, ele o completou e deixou dois videoclipes lindos, repletos de mensagens a respeito da sua morte (já tentei fazer uma análise semiótica, é coisa que dá trabalho e que até me falta conhecimento).

Nada ali é por acaso e ele deixou sua mensagem, se despediu sem alarde e deixou que o rebuliço ficasse por nossa conta. A incredulidade, a tristeza e a emoção de uma despedida tão significativa, encerrando uma carreira tão bonita, com seus altos e baixos, mas sempre apontando adiante, à frente do seu tempo, influenciando a música, a moda, o cinema, o comportamento e tudo o mais que fosse possível.

Jamais haverá outro David como o Bowie. O talento dele era do nível dos maiores que por aqui já estiveram e estão. A música vai perdendo a graça, a cor. É passar o legado dele adiante, para que mesmo morto ele continua vivo para nós.

Este clipe é incrível, repleto de referências da sua morte, que estava próxima. O álbum inteiro, desde o nome, até sua arte, foi brilhantemente pensando a este respeito. Até no crepúsculo da vida, David Bowie foi genial e decidiu sê-lo após partir da Terra. Só temos que aplaudir e reverenciar.