sexta-feira, 7 de abril de 2017

Kamasi Washington celebra a música além dos rótulos





No estonteante Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Kamasi Washington e sua trupe fizeram um show no qual adjetivos não são suficientes para descrever a magia de testemunhar essa apresentação. Não se trata apenas de jazz, na verdade foi uma celebração musical, em que rótulos até podem ser colados, mas deslizam como ímã na madeira.

Foi um show de jazz, sem dúvidas. Foi de rap também? Sim. Teve gente batendo cabeça em alguns momentos, como se fosse um show de heavy metal? Sim. Teve suingue, groove? Demais. O que então dizer?

Quando em Re Run, ocorre um "duelo" do DJ e seus scratches com o percussionista Leon Mobley tocando conga, o grupo deixou claro que não há disputa: o “novo” e o “tradicional” podem coexistir perfeitamente e o resultado, é incrível. 

As expectativas já eram altas, mas o show surpreendeu exatamente pelas improvisações destas dez pessoas no palco que reconstruiram suas músicas. A plateia, atônita e embasbacada, foi uma refém passiva nas 2 horas de show e ao final, reverenciou, de pé.

A opção de trazer apenas um tecladista, Brandon Coleman (que muitas vezes pareciam ser dois) e além das duas baterias, contar com um percussionista, fez o show ficar menos climático e mais percussivo, mais pesado, deixando as canções ainda mais enérgicas, como The Rythm Changes, Askim, Change of Guard e Henrietta Our Hero (que ele explicou ser uma homenagem para a avó, antes de chamar o próprio pai Rickey Washington ao palco, para tocar flauta e clarinete).

Não dá para explicar o que foi esta apresentação. Show do ano, uma das performances mais incríveis que todos ali que lotaram o teatro testemunharam. Ao final, avisou que estaria no camarim para receber e conversar com os fãs. Mas minutos depois, voltam ao palco para o bis e recriam Final Thought, mas em uma versão bem mais veloz e voraz. Se divertem, claramente. O resultado é absurdo.

Kamasi Washington faz jazz para quem não gosta de jazz e também para quem gosta, ao mesclar e modernizar o estilo sem abrir mão de suas tradições, mas sempre olhando à frente, sendo ousado e surpreendente. Este é o show para ser visto e aplaudido neste ano e que está além das vãs tentativas de ser adjetivado. 

Abaixo, o bis com Final Thought