Reprodução / skank.uol.com.br
Há pouco foi lançado Velocia, nono álbum de inéditas do Skank. O trabalho flerta um pouco mais com o reggae da fase noventista, mas ainda reflete uma banda indecisa, perdida e sem querer ousar tanto, que nos últimos dez anos lançou bons singles, porém álbuns bem irregulares. E Velocia não foge desta regra.
O trabalho apresenta algumas participações: Lia Paris, dispensável na chatíssima Aniversário; Nando Reis, parceiro de composições de longa data do grupo, que não compromete na faixa de abertura e na razoável Galápagos e B Negão, que deixa seu recado na bela Multidão.
No restante do trabalho, é uma montanha russa, como foram os anteriores Carrossel (2006) e Estandarte (2008), contrastes a cada faixa. Do Mesmo Jeito (parceria com Lucas Silveira, do Fresno) convence, empolga e tem cara de hit, já Rio Beautiful (com Emicida) é absolutamente descartável. Às vezes, as contradições estão dentro da mesma canção: Esquecimento começa linda, com bela letra e arranjos orquestrados e depois se perde. Já Alexia é sobre futebol e tem clara influência de Jorge Benjor, o que quer dizer: é a banda se sentindo em casa.
(Aliás, um parágrafo à parte: tenho uma birra pessoal sempre que algum artista tenta mesclar idiomas diferentes, me parece sempre uma vã tentativa de soar 'cool', quando na verdade revela em algumas vezes uma pobreza na construção da própria canção, em não conseguir encaixar alguma palavra na própria língua. Não sei quando esse trauma começou, acho que foi com os Tribalistas - aliás, quase todos os males da música brasileira eu faço referência a este nefasto projeto - , ou com a Marisa Monte - cantora que admiro e respeito (apesar d'os Tribalistas) - com aquela horrenda Amor I Love You. Então não me descem coisas como "Teu olhar é Rio Beautiful" ou mesmo "Manhã sem bonjour", admito que sou chato).
Périplo flerta com Supergrass e cai bem; A Noite faltam culhões, contundência, pra quem já compôs A Cerca e Rebelião, podia ter arriscado mais para sair do marasmo climático.
Quem diria, o disco é salvo pelo reggae: Tudo Isso (outra parceria com o rapper paulista), que encerra o trabalho, é deliciosa, simples e funcional. E Ela Me Deixou é a melhor, irresistível, mostrando que a verve jamaicana do grupo estava esquecida, mas permanece viva.
Fica o lamento de uma banda que possuía uma discografia irretocável até 2003, com os representativos e já clássicos Skank (1992), Calango (1994) e O Samba Poconé (1996), Siderado (1998), o corajoso e histórico Maquinarama (2000) e o maravilhoso Cosmotron (2003). Mas Velocia (2014) aponta para um resgate do que o grupo fez de melhor e este flerte se sobressai no trabalho. É a esperança de discos mais ensolarados daqui por diante. Vamos aguardar.
Videoclipe de Ela Me Deixou: