É engraçada a marcação de muitas pessoas (não só da crítica) com o Coldplay. No início, reclamam que era arrastado e chorão. Depois, que ficou pop demais. Agora, certamente vão arrumar defeito em Ghost Stories, sexto álbum que chega hoje nas lojas.
E o Chris Martin dá motivos para reclamarem, mas calma, chegaremos lá.
Primeiro, uma certa defesa contra os críticos (não total). Parachutes, lá de 2000, é um álbum enxuto, certinho, com pérolas que retratam uma banda iniciante, que adora(va) Travis e queria ser alguém ali no cenário do pós-britpop, nada muito além.
Com a A Rush of Blood to the Head, as vendas dobraram mundo afora e os horizontes musicais do grupo se expandiram, mesmo sendo um álbum que brilhou mais pelos singles do que pelo conjunto.
Em X & Y veio a derrapada em virtude de uma produção exagerada com teclados e sintetizadores em excesso, acima de tudo e todos, como um "sintoma de Phil Spector em The Long and Winding Road dos Beatles". Fix You sempre será uma das mais belas músicas daquela década, o álbum tem seus méritos, mas no geral, não convence muito.
Aí mudam completamente a direção: o céu se abre, o sol aparece, luzes e muitas cores. O carnaval sonoro da banda entra na avenida, expandindo seus horizontes: Viva La Vida e Mylo Xyloto venderam muito, mas aquém dos anteriores (10 milhões e 8 milhões respectivamente, sendo que X & Y e o A Rush... venderam 15 milhões cada). Não sei se a derrocada da indústria motivou, mas ao menos aqui no Brasil, o público cresceu nestes dos últimos trabalhos, mais plurais. E com hits magníficos e flertando descaradamente com o pop (principalmente no último trabalho).
O Coldplay ainda soava introspectivo em alguns momentos, mas escancarava sua música para um público maior. E agora pisaram no freio. Ghost Stories é fechado, com alguns breves acenos mais populares. Algumas vezes o álbum soa "lounge", mas reflete um momento de ruptura, talvez pelo fim do relacionamento do vocalista, que norteia o conceito do disco.
Rupturas amorosas geralmente se refletem na arte produzida. No caso do Coldplay, foi uma ruptura e tanto: eles voltaram a soar mais melancólicos e introspectivos, mas sem a mesma verve dos primeiros anos. Grande chance de ser o álbum que menos vai vender deles. Mas aí surge a pergunta. É bom?
Sim, mas cai no rol dos famosos "álbuns de transição" dos críticos, que seria algo como a "virose" para os médicos. Deve-se aguardar para saber aonde o Coldplay vai parar, para fomentar melhor uma identificação. Se é que vai parar em algum lugar. Neste momento, percebe-se um álbum climático, com muitas nuances eletrônicas e pouca bateria e guitarra.
Magic é uma bela música, mas contrasta com os singles alegres de outrora. A única tentativa de soar de forma festiva está em A Sky Full of Stars, mas que soa estranha, como se fosse uma música calma que foi remixada por uma rádio "para a noite, para a balada", coisa que a própria banda já sofreu inúmeras vezes. Mas dessa vez eles mesmos produziram, de forma proposital. A última, O, esta sim, remete aos primórdios do Coldplay: se é uma arrancada em marcha à ré para suas fraldas ou apenas um momento turbulento de seu líder, o tempo irá nos dizer.
Nas demais, as canções soam comportadas: Always in My Head é quase um lounge. Midnight, esta sim, é um lounge. True Love e Ink são belas e meramente contemplativas. Another's arms é quase um trip hop.
Ao final, o álbum pode soar chato para os mais apressados. De fato, não será um trabalho de referência do grupo, um ícone da sua discografia, mas mesmo assim merece uma audição atenta. Mas não, não entra no top 3 deles, mas vale a pena escutar, sem pressa, palavra que não está no vocabulário do grupo, que concebeu este rebento em quase 3 anos. Portanto, recomenda-se parcimônia.
Assista abaixo ao videoclipe de Magic: